Diariamente, o nosso intestino desempenha inúmeras funções importantes, muito além da clássica e essencial participação na digestão dos alimentos.
Além da função digestiva, o intestino também possui um papel importante na regulação do sistema imunológico, sendo que se estiver em condições desfavoráveis, pode estar associado ao desenvolvimento de muitas doenças autoimunes como a doença inflamatória intestinal, doença celíaca, diabetes tipo 1 e esclerose múltipla.
Nosso intestino é habitado por cerca de 100 trilhões de organismos microbianos que fazem parte do que chamamos de microbiota intestinal. Mesmo que sejam microscópicos, esses seres também realizam diversos papéis importantes no nosso corpo, como a participação na produção de vitaminas do complexo B, tais como B12 e folato, vitamina K, além de atuar no desenvolvimento do sistema imunológico, auxiliando na defesa do organismo.
Por mais engraçado que pareça, a microbiota intestinal tem um papel importante no desenvolvimento e função do sistema nervoso, exercendo uma comunicação bidirecional com o cérebro por meio do eixo microbiota-intestino-cérebro. Nessa relação, um exerce um papel importante no funcionamento do outro. Então, o intestino possui um papel fundamental na saúde mental. Além disso, sabemos que o intestino está diretamente conectado a diversos órgãos através de nervos e do sistema linfático.
Os estudos mostram que a microbiota intestinal está envolvida na produção de diversas substâncias importantes como alguns hormônios e neurotransmissores, e manter uma alimentação saudável, como o consumo de frutas, legumes, verduras e especiarias na dieta, afeta positivamente a saúde intestinal e o eixo que interliga o intestino com o centro da fome/ saciedade, podendo impactar no comportamento alimentar e quantidade do que é consumido.
Considerando essa influência que a microbiota exerce no controle de fome/saciedade é importante salientar que ela pode ocorrer por diferentes meios, controlando a ingestão alimentar. Dentre tais meios, destaca-se a capacidade das bactérias intestinais de sintetizar neurotransmissores, como serotonina, dopamina e ácido γ-aminobutírico, conhecido como GABA.
Quando o intestino não está saudável, e temos um desequilíbrio entre bactérias benéficas e patogênicas, ocorre a diminuição na produção desses neurotransmissores. O GABA é um neurotransmissor, ou seja, um componente que possibilita a comunicação entre as nossas células, possuindo efeitos antidepressivos. Já a dopamina e serotonina têm um papel fundamental no equilíbrio da nossa resposta emocional, humor e bem-estar.
Quando esses neurotransmissores estão em quantidades insuficientes em nosso corpo, ficamos mais suscetíveis a desenvolver transtornos mentais como a depressão, ansiedade, estresse, alterações no comportamento alimentar e autismo.
Com toda essa ligação e funções importantes fica fácil de entendermos que quaisquer alterações em nosso intestino impactam diretamente em nossa qualidade de vida e funcionamento de diversas outras partes do corpo.
Muitos estudos também já demonstraram que um intestino não saudável está relacionado ao desenvolvimento da inflamação, que pode dar origem a diversas doenças como diabetes tipo 2, obesidade, doenças cardiovasculares e esteatose hepática não alcoólica. Nutrientes com potencial antiinflamatório, como os polifenóis, em especial a curcumina, podem auxiliar no controle local e sistêmico dessa inflamação muitas vezes iniciada no intestino.
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