.

“Não estamos sozinhos” . Essa frase corresponde aos bilhões de microorganismos que vivem em nosso intestino e que são fundamentais para nossa saúde.
Essa comunidade de microorganismos que habita o intestino é chamada de microbiota intestinal. A palavra microbiota vem do grego e significa “pequenas” (micro) vidas (biota)”, e pode ser definida como uma comunidade de microorganismos, dentre eles comensais (aqueles que vivem habitualmente no nosso intestino sem causar problemas), simbióticos e patogênicos que habitam um hospedeiro.
É importante lembrar que a microbiota intestinal não é composta somente por bactérias, mas também por fungos, protozoários e vírus. Em pessoas saudáveis, esses microorganismos convivem em perfeita harmonia.
Dentre os fungos, podemos destacar as leveduras do gênero Candida que são consideradas o principal grupo de fungos que vivem normalmente no nosso organismo, e como as bactérias, estão presentes em várias partes do nosso corpo como boca, pele, nariz, vagina, além do intestino.
Entre as espécies que compõem esse gênero, destaca-se a Candida albicans. Apesar de ser conhecida como um fungo patogênico oportunista, estão muito bem adaptadas ao corpo humano, e podem permanecer sem produzir sinais de doença em um organismo com uma microbiota saudável e um sistema imune fortalecido.
No entanto, dois gatilhos importantes como, a defesa imunológica comprometida e a disbiose, fazem com que a C. albicans, que se apresentava como comensal, encontre um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, ou seja, instala, invade tecidos e provoca infecções como a candidíase, segunda infecção genital mais freqüente nos Estados Unidos e no Brasi.
Alguns fatores de risco para a recorrência da Candidiase têm sido estudados como alimentação rica em açúcares, carboidratos refinados, baixo consumo de verduras e legumes, gravidez, terapias hormonais, contraceptivos orais, antibióticos, diabetes e estresse crônico.
Fato é, como você se alimenta, descansa e se cuida pode proporcionar um ambiente perfeito para incrementar tanto a colonização quanto a infecção por Candida. Conhecer mais sobre os fatores e saber como evitá-los é fundamental para evitar a candidíase de repetição.
As escolhas alimentares inadequadas impactam negativamente a saúde intestinal. Alimentos que fazem parte do dia da maioria das pessoas como o pão francês pela manhã, o prato de macarrão no almoço, o bolo ou as bolachinhas do lanche da tarde, a pizza no jantar, desequilibram significativamente a flora intestinal. Se isto fosse algo ocasional não teria problema. O problema é que quando estes hábitos são frequentes o intestino mantém-se em constante desequilíbrio.
Esse desequilíbrio conduz a uma disbiose, que ocorre pelo excesso de bactérias que contribuem com processos inflamatórios e pela diminuição de bactérias protetoras do intestino. Esta alteração na composição da microbiota pode aumentar os microrganismos patogênicos como a Candida albicans e a perda da manutenção da barreira gastrointestinal, ou seja, uma alimentação que predisponha a disbiose intestinal contribui para a infecção do fungo.
Além dos carboidratos, evitar quantidades excessivas de alimentos gordurosos, ultraprocessados e cheios de aditivos ajudam no tratamento da infecção.
Um outro fator que contribui para a disbiose é o estresse. As pesquisas mostraram que fatores psicossociais, particularmente o estresse, é uma das principais causas de infecção vaginal da C. albicans.
Muitos estudos sugerem que o organismo exposto a frequentes condições de estresse, apresenta altas concentrações de cortisol e catecolaminas com importantes efeitos imunossupressores, impactando a permeabilidade e a flora intestinal.
Os adaptógenos, substâncias que aumentam a resistência e normalizam as funções do organismo, podem auxiliar a gerenciar o estresse: Withania somnifera, Panax ginseng, Crocus Sativus, Rhodiola rosea, Ashwagandha. Estes compostos modulam nossa resposta ao estresse, promovendo maior relaxamento e bem estar.
Diversas plantas medicinais podem ser utilizadas para modular a imunidade. Isso é possível, pois elas possuem metabólitos bioativos com ações imunomoduladoras, antioxidantes, antiinflamatórios e antimicrobianos, que são extremamente eficazes no equilíbrio e na funcionalidade adequada do sistema imunológico.
Neste grupo temos o própolis, alho, chá verde (Camellia sinensis), gengibre (Zingiber officinale), coneflower roxo (Echinacea), cominho preto (Nigella sativa), alcaçuz (Glycyrrhiza glabra), erva de São João (Hypericum perforatum), Astragalus e a Boswellia Serrata.
Além desses compostos naturais, alguns nutrientes como o zinco, magnésio e vitamina D podem ser utilizados para essa finalidade, principalmente quando estão em deficiência no organismo ou quando ingeridos em quantidades insuficientes.
Apostar em chás antifúngicos como o de orégano, alecrim, canela, árvore-de-chá e gengibre em conjunto com estilo de vida e alimentação saudável podem auxiliar a reduzir o crescimento excessivo do fungo.
Referências
ÁLVARES, C.A.; SVIDZINSKI, T.I.E.; CONSOLARO, M.E.L. Candidíase vulvovaginal: fatores predisponentes do hospedeiro e virulência das leveduras. J Bras Patol Med Lab, v. 43, n. 5, p. 319-327, 2007.
BRAAKHUIS, A. Evidence on the Health Benefits of Supplemental Propolis. Nutrients, v. 11, n. 11, 2019.
BROWN, A.J.P. et al. Stress adaptation in a pathogenic fungus. J Exp Biol., v. 217, n. 1, p. 144–155, 2014.
ENOCH, D.A. et al. The Changing Epidemiology of Invasive Fungal Infections. Methods in Molecular Biology, v. 1508, p. 17-65. 2017.
GUNTHER, L.A. et al. Highlights Regarding Host Predisposing Factors to Recurrent Vulvovaginal Candidiasis: Chronic Stress and Reduced Antioxidant Capacity. PLOS ONE, 2016.
KUMAMOTO, C.A. et al. The gut, the bad and the harmless: Candida albicans as a commensal and opportunistic pathogen in the intestine. Microbiology, v. 56, p. 7–15, 2020.
MEYER, H.; GOETTLICHER, S.; MENDLING, W. Stress as a cause of chronic recurrent vulvovaginal candidosis and the effectiveness of the conventional antimycotic therapy. Mycoses, v. 49, n. 3, p. 202-209, 2006.
SINGH, R.K. et al. Influence of diet on the gut microbiome and implications for human health. Journal of Translational Medicine, v. 15, n. 73, 2017.
SULTAN, M.T. et al. Immunity: plants as effective mediators. Crit Rev Food Sci Nutr, v. 54, n. 10, p. 1298-308, 2014.
ZIDA, A. et al. Anti-Candida albicans natural products, sources of new antifungal drugs: A review. Journal de Mycologie Médicale, v. 27, n. 1, p. 1-19, 2017.
Excelente conteúdo..
Admirável profissional da área da saúde 👏👏👏